Após 20 anos, uma mostra fotográfica emociona e chama a atenção de uma multidão na porta do Grande Hotel.
O Grande Hotel foi o primeiro prédio construído em Goiânia e atualmente é parte do acervo art déco tombado como patrimônio nacional. Na sua história de vida, o prédio já foi o palco principal da vida cultural goianiense, depois abandonado e esquecido, foi modificado e assim perdendo, internamente, quase todas as referências originais.
O prédio é de propriedade do INSS e foi ocupado em 2004 pela Prefeitura de Goiânia. Essa ocupação tinha como argumento a instalação ali do Centro de Memória e Esquecimento, ops!!, Referência. E claro isso nunca aconteceu. O que de fato e de direito foi implantado é a Divisão de Patrimônio Histórico.E sobre a Divisão de Patrimônio Histórico, pode se dizer sem medo de cometer injustiças, que Goiânia possivelmente é a única capital brasileira, que possui acervo arquitetônico tombado como patrimônio nacional e o órgão municipal de proteção é totalmente capenga e sem qualquer condição de atuação, pois lhe falta pessoal qualificado, equipamentos, mobiliário e computadores. E essa situação não é culpa de quem atualmente está "lotado" na DPH, ou ali foi parar para cumprir pena, e sim, da total ausência de interesse do executivo pelo assunto: proteção do patrimônio cultural. Aliás, quando há interesse é no sentido de demolir e bem rápido para receber à titulo de compensação alguns módicos milhões.
Enfim, voltemos ao assunto, Grande Hotel e o Césio 137. Rogério Borges, em um texto emocionante chama a atenção das pessoas para o aniversário de 20 anos da tragédia do acidente radiológico ocorrido em Goiânia com Césio 137. E para marcar a data, O POPULAR promove a exposição Césio - 20 Anos, com 50 fotografias em que estão alguns dos registros mais dramáticos da cobertura da tragédia provocada pela abertura de uma cápsula com césio 137, substância altamente radioativa, que causou mortes, destruiu famílias, deixou a população em pânico e recobriu Goiânia com a sombra do estigma e do preconceito.
Fantástica mostra, emocionante e diria que talvez seja a mais importante dos últimos tempos, pois retira do esquecimento, fatos, pessoas, sentimentos que foram soterrados e ocultados. É a hora de contar as vítimas, de nos reconhecermos no sofrimento de tantos, e que Goiânia, ao invés de esquecer se lembre sempre, amadureça e efetivamente seja a cidade que aceite todos os seus cidadãos.
O Grande Hotel em outros tempos serviu como point da elite, da juventude, dos políticos, dos intelectuais, hoje, sua calçada, com essa mostra, creio eu, recupera muito desse glamour e atrai os olhares curiosos dos políticos, da juventude, de passantes anônimos. E quem sabe, seja redescoberto, reconhecido ?
É claro que redescobrir o Grande Hotel não é interditar o 3º andar com uma “porta” e selar com cadeado, e ali fazer instalar uma escola particular de música. Como é a pretensão da SECULT, que designou como bate estaca a jornalista Marley Costa Leite e como beneficiário Oscar Wild e sua trupe.
A porta é uma vergonha e transforma o Grande Hotel em um pardieiro mal acabado. E é bom que se diga que não existe qualquer autorização do IPHAN para isso. Apenas o desejo de um gestor público, que pelo bom desempenho frente a pasta é apontado como personagem principal do post anterior “Mau cheiro na cultura?”, ao lado de seu fiel escudeiro.
O Grande Hotel é simbólico para Goiânia e deveria ser tratado com respeito e dignidade. Se hoje não é mais um hotel, que se torne ao menos, o local onde se possa guardar as referências dos pioneiros, a memória dos que ajudaram a construir essa cidade, sonhada como uma princesa do centro-oeste, dos filhos e filhas que cresceram junto com ele.
Eh! Goiânia!
Para ler O POPULAR promove exposição com fotos do acidente com o Césio 137 por Rogério Borges siga o link http://goiasnet.globo.com/cultura/cul_report.php?IDP=6831 para saber em primeira mão a decisão da Justiça Federal sobre a disputa entre a Prefeitura e o INSS pelo prédio: http://www.trf1.gov.br/processos/ProcessosTRF/ConsProcTRF1Pes.php?tipoCon= e no campo número do processo digite: 2005.35.00.013512-2 .
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