Elza e Camilo(neto), Fernanda(bisneta),Gisele(bisneta) e Maura.Aniversário de três anos da Fernanda.
Mãe
Que figura estranha que é a mãe, já pensaram nisso? Antes de
ser, só pensa nas doçuras da maternidade, depois de ser, o que lava de fraldas,
o que limpa de bundinhas gorduchas melecadas, o que deixa de dormir e o que
vive em sobressalto a faz esquecer completamente das doçuras, basta parar um
momento para refletir friamente sobre a vida que leva no pós filhos! Mas basta
olhar para aqueles zoinhos melosos e desconsidera tudo, acha aquele cheirinho
das fraldas o melhor perfume francês , ri das noites em claro e surta se alguém
disser ao contrário.
Nos jornais de hoje, a
mãe do acusado da chacina de Doverlância reclama das dificuldades para
recuperar o corpo do filho, morto no acidente com a aeronave da Polícia, ela
moradora de um assentamento, e o medo de represálias, pois têm outros três
filhos. Coitada dessa mãe, para o resto da vida vai se culpar pelos atos do
filho, vai se perguntar onde errou, e o que poderia ter feito para evitar que o
filho tomasse o caminho que tomou. Talvez seja hora do nosso mundo perfeito
parar e refletir sobre o que está acontecendo com os nossos jovens, homens,
meninos, que morrem diariamente, antes de completar 30 anos. Quais as opções de
futuro? De emprego? De escola? De vida? Fiquei com pena dessa mãe, que hoje
enterra um filho, que outro dia era uma bolinha gorducha, balbuciante e de
olhos brilhantes, agora é nada, pó que volta a terra. Não dá para imaginar
isso! Eu que sou mãe de dois rapazes, meio que sem querer, se leio a noticia de
um jovem que morre, por acidente, drogas, ou assassinado - o jovem de periferia
de Goiânia morre assim, bestamente, vitima de torcida organizada, do tráfico ou
da vontade de superar as condições desiguais que vive ( de acordo com a
propaganda massificadora da TV) – me pego agradecendo a Deus que o mais velho
(um folgado de marca maior) já tenha passado dos trinta, e morrendo de vontade
de saber como vai o mais novo (filho da mãe motoqueiro). E os dois casados e
com filhos! Imagina essa mãe, cujo filho é acusado de atrocidades, morto, e só
tinha 22 anos? E o filho de tantas mães que também se foram, jovens, meninos?
Cara, não dá para imaginar!
A minha mãe, digna senhora de 86 anos, cujo único defeito,
atualmente, é o pouco juízo, não que antes fosse diferente, por que ela nunca
foi uma mulher igual às outras, basta ver que casou-se, diz ela que sem amor
(há quem duvide), com um luso, ficou viúva relativamente jovem, e mesmo sem o
alegado amor pelo luso, não mais buscou encontrar o amor. E olha que não foi
por falta de oportunidades e pretendentes! Penso cá comigo que ela não viu o que
já havia encontrado, no companheiro e amigo lusitano! Mas enfim, casando com ou
sem amor reconhecido, mudou-se do interior do Estado do Rio de Janeiro, para o
fim de mundo, do interior de Goiás. No calor causticante, na poeira vermelha e
na lonjura distante de Porangatu, naquele tempo, médio norte goiano, agora
norte, fronteira com o Tocantins, perto e longe de tudo ao mesmo tempo, viveu
ombro a ombro a construção do futuro para o casal e para os filhos, e agora
vive um dia depois do outro, um dia tonta, no outro, animada (a velhice é
assim, um dia depois do outro, puro lucro), e sempre com a alegria, a
felicidade e a inteligência que a impulsionaram a casar-se com o luso e meter-se
nessa grande aventura que é viver. Morro de inveja dela, dá para acreditar que
gosta de academia? Quer malhar nessa idade!
À minha mãe, milhões de beijos e um aviso, na semana que
vem, vou ai nesse norte goiano, te encontrar. E as mamães de primeira viagem,
Simone (amiga do coração), outros zilhões de beijos e um conselho, aproveita cada minuto enquanto a pequenina Isabela ainda
é só uma coisinha gorducha, zoiudinha e sorridente, por que depois, a vida, vai
tomar seu curso, e sua pequenina, seguirá fazendo escolhas e te dizendo, mãe,
credo, me deixe viver! Bom ai já é outro tempo, e os netos chegam.
À todas a mães do mundo.
Deolinda
Para Elza, Camilo, Albino, Maura, Thaís, Fernanda, Arthur e
Gisele. À Mônica, filhota do coração. E claro, Simone Rosa.
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