Temos espaços culturais. Pois é e agora?
A cultura em Goiânia anda em alta. No dia 05 de julho, dia que se comemora o Batismo Cultural de Goiânia, os vereadores, enfim conseguirem realizar a audiência pública da Cultura e com a presença do titular da pasta Kleber Branquinho Adorno.
Em junho foi anulada pela justiça goiana a 3ª Conferência Municipal de Cultura, pela ausência absoluta de divulgação, mais que uma ação da justiça, representa a reação dos artistas goianos contra o arbítrio e a favor de uma política pública para cultura que seja gregária e participativa.
No dia 11 de julho o jornal O POPULAR abriu espaço de duas páginas no Caderno O MAGAZINE para que o jornalista Rogério Borges, aparentemente levantasse a bola da discussão : ausência de políticas públicas para cultura em Goiânia e em Goiás.
Muito bem escrita, a matéria (leia na integra http://goiasnet.globo.com/cultura/cul_report.phtm?IDP=5990 )
prima por deixar nas entrelinhas a discussão que coincidentemente está explicitada na fala de Eládio Teles no caderno de opinião do jornal O POPULAR 11 /07/ 2006:
“Cultura para quem?
Ou seria melhor a pergunta: cultura para quê? Ou ainda: a quem serve a cultura
Se não me engano, o Centro Cultural Oscar Niemeyer custou aos cofres públicos algo
Durante oito anos nada foi feito no sentido de sanar esse mal crônico, como criar cargos, funções e organismos específicos que permitam ao Estado gerenciar com eficiência seus equipamentos para cultura, orientando sua utilização para o bem-estar da sociedade como um todo, cumprindo seu dever constitucional. São probleminhas conhecidos e nunca resolvidos. Enquanto isso a administração gastou milhões em um megaequipamento, o Centro Cultural Oscar Niemeyer, que, se vier a funcionar, atenderá muito bem às populações carentes de condomínios horizontais de luxo ou das dezenas de edifícios que surgem diariamente no entorno do Shopping Flamboyant. Ao mesmo tempo, a Prefeitura de Goiânia investiu pesado na reforma do Cine Ouro: finalmente a capital tem um teatro e um cinema administrados pelo município. Só que, na contramão das decisões da 2ª Conferência Municipal de Cultura, garantidas por lei, o prédio é alugado com pretensões de aquisição futura, ou seja, estamos reformando a casa para comprá-la em seguida. Uma estratégia utilizada pelos mais eficientes mercados imobiliários do Planeta. Por outro lado, prédios próprios como a Estação Ferroviária, totalmente reformada, o café e a biblioteca da Praça Universitária – também reformados –, convênios como o do Grande Hotel e até mesmo imóveis alugados como o Cete estão abandonados. Por coincidência projetos iniciados pela gestão anterior – que mesmo antes de entregar a administração os havia abandonado – evidenciam a mesma qualidade de planejamento das gestões aqui citadas.
Diante dessas observações, e pressupondo uma lógica, a conclusão imediata e otimista é a seguinte: faltam inteligência e sensibilidade aos gestores da Cultura na capital e no Estado, já que, justificadamente, podemos levantar suspeitas deveras. Entre elas sobre suas intenções e capacidade de planejamento e, por conseguinte, sobre a legitimidade desses ordenadores de despesas e seus assessores para propor e gerenciar projetos, quiçá programas, para a cultura. São conclusões tiradas apenas observando uma parte das ações – mas, se tomássemos outras como exemplo, as conclusões não seriam diferentes.
produtor cinematográfico eladiocinema@gmail.com “
Mas, vamos lá. O que se pode dizer do Centro Cultural Oscar Niemeyer?Para um cartão postal, talvez, seja caro demais. Mas ainda não mostrou ao que veio e se quiser mostrar, ao que tudo indica, os atores da cena cultural terão que ser chamados para a discussão. Longe de ser um pecado, a discussão é parte da caminhada para um mundo melhor e para os fazedores de cultura, significa reconhecimento, dignidade e transparência.
E nesse caso, Fernando Perilo gravando DVD na esplanada soa meio antigo no modo de gerir a coisa pública.
Ocorre que os espaços culturais, tanto quanto os centros de saúde e as escolas, exigem administradores competentes (e não apaniguados políticos) e sobretudo projetos a curto, médio e longo prazo. E tanto quanto a saúde e a educação, a cultura dispõe de orçamento próprio.
Se não há o que se dizer do C. C. O.N, certamente o mesmo não pode se dizer do Cine Ouro, vulgo Goiânia Ouro.
E ai o bicho pega, nascido sob o signo da dúvida, o Goiânia Ouro é tão inusitadamente estranho como é o Centro de Memória e Referência de Goiânia (Grande Hotel) e o CETE. Os três inexistem enquanto organismo instituído por lei ( ao que se sabe o poder público só pode fazer aquilo que está na lei), portanto sem quadro de pessoal e orçamento. E não é só isso.
Quanto efetivamente foi gasto pela SECULT para fazer renascer das cinzas o Cine Ouro? E da onde saíram esses recursos? Do FAC? É também estranho, pois aparentemente, se despesas foram pagas com recursos públicos, não aconteceu licitação para aquisição das poltronas e para o projetor como foi declarado pelo secretário como as únicas aquisições da administração pública.
E o que mais deixa margem para dúvidas, a despeito do discurso de que o espaço está destinado a produção local e regional, como explicar que na fraude da 3ª Conferência Municipal de Cultura(2005), a ordem era excluir todos os produtores e as entidades representativas? E conseguiram. Impuseram um Conselho Municipal de Cultura composto de pessoas que representam 100% os interesses da SECULT. E que nem sempre, por que não dizer, quase sempre, não representa os interesses dos artistas.
E no mesmo rastro segue a Comissão de Projetos Culturais composta em sua maioria de cargos comissionados da SECULT e como no caso da música chega a ser hilário o titular, Wilson Ribeiro, o que se intitula o homem do Íris (será que o prefeito sabe disso), qual o perfil do cidadão para escolher quais projetos de música é de interesse para a cidade? E quem indicou? As duplas sertanejas que empresaria?
Declarado o tratamento preferencial para os projetos aprovados pela
E esse precedente já foi aberto quando em grau de recurso o CMC aprovou um projeto que havia sido considerado proposto por “laranja” e ainda por cima, a despeito da lei, aceitaram a troca dos proponentes. E esse projeto inaugurou o Goiânia Ouro.
A cultura é processual, o que não é processual é a instalação de novos espaços sem planejamento, sem corpo técnico, sem orçamento e sem projeto. Isso nada mais é que esperteza política ou despir um santo para vestir o outro. E no caso concreto, em nome do novo, seqüestra-se o piano do Centro Livre de Artes, abandona-se o Grande Hotel a própria sorte (para prédio de particular temos didim, para prédio tombado como patrimônio cultural da cidade, temos abandono).
Ora, apostar na produção local, significará sempre, sobretudo, respeitar o produtor, estimular através de programas permanentes de apoio a produção e a profissionalização do artista local. E certamente apostar na produção local, não significa erguer micros ou macros centros culturais, mas, antes de tudo revitalizar e implementar projetos de permanência dos instituições já existentes. Tornando-os qualitativos e dignos.
Ao invés disso afirma-se que todas as letras que o Goiânia Ouro é o supra-sumo da cocada, mesmo que o aluguel seja pago com recursos da educação; que o abandono da Estação Cultura é culpa da Rede Ferroviária Federal que desgraçadamente resolveu entrar em liquidação; que o Grande Hotel não deu certo como Centro de Memória(ou de esquecimento?) por que o INSS(dono) é um crápula que não compreende a cultura, mas quem sabe, acabará em biblioteca, isso claro, se não houver despejo.
E o Palácio da Cultura? Reformado em 2003 com dinheiro japonês deixou de ser um espaço das artes plásticas para ser tornar um” boteco”.E atualmente, resume-se a expor o acervo do MAG(legalmente a sala é subordinada ao museu) e obras dos próprios funcionários. Ora, quem explica a retirada das obras do museu, que até maio de 2005 estavam em reserva técnica climatizada, direto para uma sala totalmente desqualificada para receber um acervo museológico? E bons tempos aqueles que não se usava espaços públicos em proveito próprio.
O CETE é outro espaço que foi “obrado” com recursos públicos e o prédio é de particular.
E então? Como diria uma certo poeta arreliento, e então? Quem é a bola da vez?
Ora, gente, ausência de política pública dá nisso mesmo. E audiência pública deixou isso bem claro, afinal, aqueles que produzem cultura não estavam sentados na fila dos apoiadores do secretário.
E enquanto isso, o piano do Centro Livre de Artes seqüestrado para enfeitar o Goiânia Ouro deixa de servir a comunidade. Será que seqüestro de piano é crime inafiançável?
Tem razão o Eládio , falta inteligência aos gestores públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário