O Credit Suisse dá R$ 2 milhões para Pinacoteca do Estado e Museu de Arte Moderna de São Paulo renovarem seus acervos
por Antonio Gonçalves Filho
A falta de recursos financeiros dos museus brasileiros para renovar suas coleções é crônica. As doações bissextas nem sempre atendem às necessidades dessas instituições, cujas lacunas no acervo raramente são preenchidas com obras oferecidas por colecionadores, artistas e galerias. Felizmente, essa situação parece estar mudando. O Credit Suisse Brasil acaba de destinar R$ 2 milhões para a aquisição de obras de arte que vão beneficiar dois grandes museus de São Paulo, a Pinacoteca do Estado e o Museu de Arte Moderna. Não é a primeira vez que a instituição financeira apóia os dois museus, mas é pioneira sua atitude de transferir aos curadores dos mesmos a decisão de escolher as obras e os artistas que farão parte de suas respectivas coleções.A Pinacoteca do Estado já escalou sua seleção: Beatriz Milhazes, Carlos Zílio, Carmela Gross, Daniel Senise, Efrain Almeida, Ivan Serpa, Marepe, Rosângela Rennó e Valeska Soares. Com exceção do carioca Serpa, morto prematuramente, aos 50 anos, em 1973, todos os outros são contemporâneos ativos, alguns com passagem por bienais e mostras internacionais. Já o Museu de Arte Moderna (MAM) procurou em sua seleção corrigir algumas falhas históricas do acervo, particularmente as de três movimentos importantes da arte brasileira, o concretismo, a arte pop e o neoconcretismo. Com o dinheiro da doação o MAM vai comprar obras de Waldemar Cordeiro, Antônio Dias e Hélio Oiticica, respectivos representantes desses movimentos.O Credit Suisse, que no ano passado destinou mais de R$ 8,5 milhões para patrocínio cultural, tem ainda dois outros grandes projetos para este ano: a restauração e digitalização da obra do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (leia texto nesta página) e a instalação de uma escultura de Tomie Ohtake em frente à Faculdade de Economia e Administração da USP. O diretor de investment banking do Credit Suisse, José Olympio Pereira, também um grande colecionador de arte, explica que a ausência de obras contemporâneas em espaços públicos motivou o banco a tomar essa e as outras iniciativas. 'No nosso julgamento, a arte contemporânea, que é tão importante como a nossa música e o nosso futebol, precisa ser exposta ao público', diz José Olympio, explicando que o banco não tem acervo justamente por acreditar que as doações aos museus ajudam a facilitar o acesso da população às obras.O diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araújo, conta com o apoio do Credit Suisse desde a retrospectiva do escultor norte-americano Alexander Calder (1898-1976), realizada em agosto de 2006. Nos últimos cinco anos, segundo ele, 1.700 novas obras entraram no acervo da Pinacoteca, mas faltam ainda nomes fundamentais de movimentos como o modernista - Rego Monteiro e Ismael Nery, entre eles - e peças históricas do século 19.O curador do Museu de Arte Moderna, Felipe Chaimovich, também adotou como critério a incorporação de artistas ausentes do acervo da instituição. Ele negocia, entre outras peças, a aquisição de um 'bólide' (peça de vidro ou madeira com massa-pigmento) com a família de Hélio Oiticica (1937-1980), um dos maiores nomes do neoconcretismo. Outro conjunto de trabalhos na mira do MAM é uma série de dez filmes realizados nos anos 1970 pelo artista multimídia paraibano Antonio Dias. Do artista Waldemar Cordeiro (1925-1973) o museu quer comprar Luz Semântica, obra dos anos 1960 marcada pela passagem do concretismo para a experimentação informal pop (ou popcreto, como ficou conhecida essa fase).
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