Nos últimos dias, nas rodas culturais de Goiânia, dois assuntos estão permanentemente em pauta, um é o uso dos veículos de comunicação para atender interesses de uns e outros, em detrimento do dever de informar, como é o caso das denúncias publicadas nos últimos dias no JB, aliado ao silêncio comovedor da nossa imprensa local; e outro é o uso de verbas públicas da cultura para promover concursos com cartas marcadas.
Em dezembro de 2005, o escritor e poeta Luiz de Aquino, escreveu um artigo intitulado “Troca de letras ou de favores?” (original publicado a seguir) no qual denuncia a troca de favores entre a Academia Goiana de Letras e a União Brasileira de Escritores. O texto cristalino demonstra que os recursos públicos destinados à premiação de concursos literários estariam sendo utilizados para troca de favores. Em dado momento comenta que se não é ilegal, também não ético. Bom, e será que realmente não é ilegal? Os recursos são oriundos de verbas públicas para cultura municipal. Ou seja, leia-se Secretaria Municipal de Cultura e Prefeitura de Goiânia.
Apenas três dias após a publicação desse texto, o Ministério Público move uma ação civil pública de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA contra o secretário municipal de cultura de Goiânia, Sr.Kleber Branquinho Adorno. Para quem acompanha o blog já sabe que o cidadão possui uma forte queda por praticar atos um tanto quanto “estranhos”, tais como o recente espetáculo farsante da eleição dos novos membros do Conselho Municipal de Cultura; fraude de sua tese de doutorado, elaborada no “bom” estilo CTRL+C e CTRL +V; perseguição de servidor público para favorecer clientelismo político; desvio de finalidades dos recursos do Fundo de Apoio a Cultura de Goiânia... Ah, não se pode esquecer o anúncio de uso de verbas públicas para reformar prédio de particular e etc, etc...E claro, Kleber Branquinho Adorno é membro da União Brasileira dos Escritores e também da Academia Goiana de Letras.
Em janeiro, mês que Goiânia esquentou muito, o calor está de matar, o céu límpido e azul de dia, de noite está repleto de estrelas brilhantes. E Marcos Fayad, ator e diretor de teatro, inspirado certamente pelo clima escreve um artigo intitulado como “Descalabros” , no qual passeia vagamente entre a realidade cultural local, na opinião dele, vivendo agora tempos bons depois de um longo período cinza. E a realidade nacional, onde, denuncia, se gasta mais com combustível que com investimento na cultura e no turismo. Muito bem observado.
Entretanto, no contraponto desse discurso, Gyannini Jácomo, colaborador do jornal A HORA e participante do Fórum Permanente de Cultura de Goiânia, elabora uma série de “Observações...”, demonstrando que longe dos tempos bons, as cinzas nos recobre a todos que trabalhamos com cultura em Goiânia e não apenas o “cinza” (uma cor resultante da mistura de pigmento preto e branco). E ainda tristemente nos reconduz à temática da distribuição de patrocínios e de verbas públicas sem a devida transparência ou mesmo prestação de contas.
Pois é, vivemos um período muito estranho na cultura em Goiânia, de ausência absoluta de um projeto cultural, CTRL+C e CTRL+V, a troca e a distribuição de gentilezas e favores com recursos públicos, etc e etc...
Então? Por que o cinza? Tem quem goste.
O que devemos avaliar é onde andam ética e valores culturais na cidade de Goiânia.
Ah, quanto ao JB, só comentei para finalizar esse texto dizendo que ao longo de 2005, para romper o silêncio tumular da imprensa local a respeito dos acontecimentos do Museu de Arte de Goiânia, tornei-me uma blogueira, vê se pode? Bem que minha santa avozinha dizia, mente desocupada é oficina do Diabo. E ainda como dizia o meu grande amigo Reinaldo Barbalho, que Deus o tenha, se não têm nada que fazer, escreve, escreve e escreve. É o que faço no Grande Hotel.
Por Deolinda Taveira
Troca de letras ou de favores? por Luiz de AquinoGoiânia,19/12/2005.
Pelo que se ouve nas ruas, nas esquinas, nos bares, nos locais de trabalho e nos lares, a população goianiense anda tiririca com boa parte dos vereadores por rejeitarem o pedido de cassação do vereador Amarildo Pereira. Acusado do desvio de sete milhões de reais, ele foi absolvido por um voto apenas, agraciado com a votação secretar que havia sido abolida na Câmara Municipal de Goiânia há alguns anos, mas que, com um artifício desses que só os juristas explicam, restaurou-se a prática do sigilo. Há quem veja, aí, uma intromissão indevida do Judiciário em assunto do Legislativo: a própria Câmara instituiu o voto aberto. Ora: se a Câmara não pode sequer legislar para ela própria, para que a Câmara? Que os juízes decidam tudo, então. Aliás, acho que já está na hora de elegermos também o judiciário; elegemos Senado, Câmara Federal, Assembléias, Câmaras Municipais e os Executivos; porque só os do Judiciário não são eleitos? Mas apesar de uma decisão como essa atingir diretamente os nossos bolsos, com o desvio de sete milhões de reais que deveriam ir para o INSS, eles, os vereadores, acham que o assunto é privativo deles. Será? Somos palhaços? O pior é que a coisa pega: no âmbito das entidades literárias de Goiás, no decorrer deste ano, configurou-se desde sábado (dia 17) uma legítima troca de gentilezas entre presidentes da Academia Goiana de Letras e da União Brasileira de Escritores: Geraldo Coelho Vaz foi agraciado com o primeiro lugar em poesia na Bolsa Hugo de Carvalho Ramos. Não devia: ele, como presidente da Academia, indicou um dos membros da comissão que o premiou. Tudo bem: agora, Maria Luísa Ribeiro vence o prêmio Colemar Natal e Silva, da AGL. Fico por entender: não é ilegal, mas não é ético. Evidente troca de gentilezas, tráfico de influência ou salamaleque com o chapéu alheio. Os cinco mil reais que Malube receberá na noite de hoje pelo prêmio foram doados por algum patrocinador que acredita na lisura dos dirigentes, não esperava um favorecimento tão... indiscreto. Não é preciso provar nada: os fatos estão aí, na imprensa, ou seja, são do conhecimento público. Por coincidência, em ambas as comissões - a que julgou a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos e a que julgou o Prêmio Colemar Natal e Silva - atuou um mesmo julgador. No primeiro caso, consta que um dos membros, ao chegar à reunião, ouviu dos outros dois: “Você já é voto vencido; já decidimos”. Pois é... À boca miúda, corria desde os primeiros dias de dezembro que a presidente da UBE ganharia a honraria de cinco mil que leva o nome do fundador da AGL, Colemar Natal. Avisei o presidente da AGL, por telefone, do que me fora contado e que já chegara ao conhecimento de alguns jornalistas. Vejam: na edição de domingo, 11/12, nos classificados do DM, página 7, saiu essa notinha: “MALURI – Um verdadeiro prêmio. 5.000 motivos para ficar feliz na segunda”. MALURI, no caso, são as primeiras sílabas do nome de Maria Luísa Ribeiro. Ora, gente! A UBE cobra algo em torno de cinqüenta reais dos escritores concorrentes à Bolsa Hugo de Carvalho Ramos, bancada desde 1944 pela Prefeitura de Goiânia. O dinheiro do prêmio Colemar Natal e Silva é coletado pela AGL entre empresários amigos. É legal? É justo? É ético? Estranha-me a prática. Tanto Coelho Vaz como Malu Ribeiro têm méritos para conquistar prêmios, mas a premiação mútua, num intervalo de poucos meses, parece suspeita. Alguns escritores, há alguns meses, têm me procurado para denunciar coisas assim (costumam me contar; depois, dizem por aí que sou doido, que ponho fogo na mata etc. Não têm coragem de se expor, mas não estou disposto mais a conservar segredos). Esperei, contudo, os fatos se tornarem insuportavelmente explícitos. Desrespeita-se a dignidade dos concorrentes, o dinheiro público municipal, a boa fé dos que contribuem com a AGL e repete-se o compadrio que se viu na Câmara. Mas deviam, ao menos, respeitar os nomes de Hugo de Carvalho Ramos e de Colemar Natal e Silva.
Luiz de Aquino é escritor
http://www.dm.com.br/impresso.php?id=115033&edicao=6619Descalabrospor Marcos FayadA área da cultura nos projetos dos governos no Brasil nunca foi considerada grande coisa. Nos Estados e nas prefeituras, o mesmo: é preciso sempre botar a boca no trombone, espernear muito para conseguir realizar atividades culturais que interessam a todos, como se o realizado fosse apenas do interesse de quem realiza. Quem faz cultura sofre de uma necessidade, quase compulsão, para se expressar através da arte e com isso participar da corrente de pensamento, discussão e engrandecimento que beneficia a todos.
Marcos Fayad
Se em Goiás em matéria de cultura as coisas vão indo bem nos últimos anos, depois de termos amargado um longo período cinza, no Brasil o cinza se tornou definitivamente opaco. Segundo as palavras do diretor Gerald Thomas, temos um ministro da Cultura que é ministro de si mesmo e usa o ministério para sua promoção pessoal e para ilustrar seu ego, cantando e se exibindo na Europa enquanto ninguém no Brasil sabe a que veio e quem comanda a área. O mesmo ministro já tinha dado mostras de sua incompetência quando vereador na Bahia, mais dado a festas e declarações suntuosas sobre assuntos gerais. Nesse jogo de aparências acabou sendo convidado pelo atual presidente para dar visibilidade à cultura bem dentro do espírito do governo de manter aparências mesmo que a realidade despenque sobre sua cabeça. Despencou geral.
Acabo de ler num site de contas do governo federal o maior descalabro entre muitos descalabros cometidos em outras áreas. Só no ano passado os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário gastaram nada mais nada menos do que R$ 724.723.464,41 com despesas que englobam a compra de carros, aluguel, serviço de manutenção, combustíveis e lubrificantes, IPVA, compra de acessórios e o pagamento de outras despesas.
Surpreendente também é o fato de que, a cada ano, esta despesa só vem crescendo, atingindo, em 2004, valor superior aos gastos efetivos do Ministério do Turismo (R$ 324 milhões) e do Ministério da Cultura (R$ 395 milhões). Isso mesmo que você leu, leitor, gastou-se mais com os carros oficiais do que com o Ministério do Turismo e da Cultura juntos.
Isto, sim, é um governo inteligente comandando por camaradas que tiveram o apoio de quase todos os intelectuais para chegar ao poder. Impossível não pensar no livro do George Orwell, A Revolução dos Bichos, que, com certeza, os camaradas não leram, já que são apologistas da ignorância, mas que reproduzem com uma precisão que chega a assustar. Leia e veja se não é perfeito. Num País em que o turismo poderia ser a grande indústria por conta da extensão do seu território e das belezas naturais e históricas; num País em que a cultura é tão diversificada a ponto de encantar o mundo quando consegue driblar a burrice oficial e ganhar espaço por conta própria, chega a ser uma ofensa o dinheiro que se gasta com as autoridades oficiais e seus carros equipados com o que há de mais luxuoso.
O combustível e os lubrificantes usados nos carros somam 44% do gasto global, consumindo R$ 322 milhões dos cofres governamentais. O Ministério da Defesa, que reúne o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, é o que tem o maior dispêndio com este item, 53%. Foram gastos também mais de R$ 500 mil para compra e instalação de aparelhos de som e MP3, ar-condicionado, toca-fita, entre outros acessórios. Enquanto deslizam pelas largas avenidas dentro de seus bólidos pagos com nosso dinheiro, quem faz cultura mendiga nos gabinetes os magros subsídios que se assemelham mais a esmolas do tipo cala-a-boca. Fica mais evidente a cada dia que quando os que nos governam não têm interesse nem sabem o valor da cultura, o Brasil retrocede perigosamente aos mesmos índices que vivemos na época da ditadura.
Agora chegamos aos números lidos acima e, caso não se faça nada, será muito mais difícil retomar o crescimento da área cultural no próximo governo que, espero, não seja o mesmo dos camaradas que apregoam a ignorância e o desconhecimento como aquilo que os aproxima do povão. Havemos de amargar dias terríveis se quisermos ter acesso aos bens culturais, direito inalienável de todos, graças a políticos que se vangloriam de sua alienação. É chorar ou rezar.
Marcos Fayad é ator e diretor de teatro
bomcombate@uol.com.br publicado originalmente no jornal O POPULAR de 19/01/2006
COMENTÁRIOS...Para falar do cinza ou de outras cores em Goiás.por Gyannini Jácomo
Um dramaturgo goiano, respeitável até, nesta semana opinou em um jornal diário da capital sobre os problemas da cultura no Brasil e me fez refletir sobre o papel do estado em relação ao saber de nossa terra. De maneira capciosa não observa as qualidades do trabalho realizado pelo Minc. Não que do governo do Presidente Luís Inácio tenhamos muito orgulho, mas afirmar que o Minc não trabalha com seriedade e envida esforços para colocar as manifestações culturais brasileiras em evidência, aí não dá para aceitar facilmente. Aliás, o nobre esquece-se de dizer dos recursos recebidos do Correio Brasileiro para uma temporada de 2 meses em São Paulo. Se não falta a memória e informação, 70 mil reais.
Uma outra afirmação por parte do dramaturgo é de que a cultura aqui em Goiás vai bem, depois de passar por um período cinza. Cinza estão os artistas goianienses, agora, com a quebra de todas as garantias democráticas conquistadas a duras penas e por muitos anos. O governo do Prefeito Íris Rezende vem cumprindo seus compromissos eleitorais (do asfalto, do populismo que já conhecíamos do prefeito), de maneira objetiva, talvez não como eu quisesse, mas não foi de meu agrado também sua eleição e na questão cultural aí não se tem vez mesmo. O secretário Kleber Adorno alijou, perseguiu artistas e servidores e mentiu à população com certo rigor visto somente em tempos nada memoráveis. Isto é cinza. Não é a toa que o secretário está sendo processado pelo MP por improbidade administrativa. Cinza, muito cinza.
Mas o nobre Dramaturgo têm razão em questionar o Governo Federal, pois pela primeira vez o Estado Brasileiro ouviu os trabalhadores em cultura através da Conferência Nacional de Cultura, abriu a caixa preta do Direito Autoral para o debate, através do DOC TV regionalizou os recursos que antes pertenciam somente ao eixo Rio – São Paulo. Fica claro o porquê das críticas advindas de Gerald Thomas, Cacá Rosset, Caetano Veloso e outros, porque agora o recurso federal para as manifestações artísticas foi distribuído para o Brasil e não para poucos.
Outro dia li no JB assim, “Minc premia má qualidade” discurso de um cineasta que questionava a descentralização dos recursos públicos ao perceber que sua obra prima não seria financiada pelo Minc ou qualquer um de seus parceiros (vide Petrobrás, Correios e etc., pois os recursos estavam disponíveis para comunidades do nordeste, centro–oeste ou mesmo, outros autores do sudeste. Segundo o cineasta, estes não sabiam fazer filmes.
Outra coisa que o mesmo dramaturgo esquece-se é de se referir ao patrocínio que recebeu de 100 mil reais da CELG para uma temporada de duas ou três semanas do espetáculo “Povo Brasileiro”, na cidade do Rio de Janeiro. E não me lembro de nenhum edital público para tal financiamento, será que é assim que o nobre gosta de se relacionar com o erário público? E procurado no site da empresa estatal, nas suas prestações de contas, nada foi encontrado por este maldito autor.Mas o poeta do drama está certo, é preciso qualificar, publicizar e dar transparência ao gasto público.
De agora para diante todo àquele que receber dinheiro público terá que prestar contas e poderá ser somente através de edital criterioso do valor social da obra e não mais para satisfação de seu ego. Fica decretado, Marcos Fayad.
Gyannini Jácomo é colaborador do jornal A HORA, e do Fórum Permanente de Cultura de Goiânia –
candido_prado@hotmail.comPublicado originalmente no jornal A HORA -
http://www.ahoraonline.com.br/giannini.htm