segunda-feira, maio 03, 2010

MAG, ENFIM PRONTO?

Carta encaminhada ao jornal O POPULAR .

Goiânia, 29 de abril de 2010.

Prezado Editor,

Sirvo-me da presente para parabenizar o jornalista Rodrigo Alves pela excelente matéria “Enfim, prontos” no qual relata a situação do Centro Livre de Artes e do Museu de Artes de Goiânia. A matéria muito bem elaborada, ouviu e viu vários lados e conduziu o texto de modo claro e objetivo, constatando que o poder público omisso é passível de ser responsabilizado,e punido. E na medida do possível, considerando a citação do meu nome na matéria, a publicação dessa carta.

Uma frase atribuída ao atual gestor da SECULT , “...partidas de pessoas mal-intencionadas” ao se referir as pessoas que criticaram e denunciaram a displicência no processo de reforma do prédio do CLA e MAG, impressiona e torna fácil compreender o terror moral dos servidores, da escola e do museu, em falar sobre o assunto.

Para compreender o caráter do atual gestor da SECULT e especialmente a forma como pensa cultura e política, e as relações estabelecidas com o patrimônio cultural goianiense, é preciso voltar no tempo. Nos idos de 1993, no Ministério Público Estadual um jovem promotor chamado Sulivan Silvestre, falecido em 99, se destacava pelas ações em defesa do meio ambiente e pela primeira vez na história de Goiás, também se envolveu com as causas do patrimônio cultural. Sulivan Silvestre recebeu a denúncia de que o painel “O sonho de Dom Bosco “ de autoria do artista plástico D.J. Oliveira seria destruído. E foi destruído, mesmo notificado, da noite para o dia, o então secretário de Cultura de Goiânia, Kleber Adorno, patrocinou, arrumando máquinas e homens da prefeitura, a total destruição do painel. A desculpa na ocasião era a vontade do artista, ainda vivo, e que posteriormente substituiu uma obra prima por um arremedo, em azulejo. Soube do caso por que o Dr. Sulivan Silvestre solicitou-me um parecer técnico sobre as condições da obra, parecer esse que foi totalmente inútil, visto que não havia mais obra alguma a ser estudada, já havia virado pó.

Alguns anos após outro episódio demonstrou outra faceta do caráter do mesmo cidadão. A memorável disputa entre Marconi Perillo e Iris Rezende. Kleber Adorno era o coordenador de campanha do jovem de camisa azul, que ninguém sabia quem era, mas que impressionava por onde passava, mas aparentemente, e de acordo com a mídia local, sem chances de ganhar. Ora, o grande sonho de consumo de Kleber Adorno era voltar a ser secretário de cultura, cargo que ocupou no governo Santillo. Aparentemente, avaliando a impossibilidade do jovem de camisa azul ascender ao “trono” goiano, às vésperas, duas semanas antes do último embate nas urnas, Kleber Adorno pulou para o lado de Iris, a derrota foi histórica e pecha de traidor ficou.

Ao assumir o governo em 2005, Iris ,em retribuição, resgata Kleber Adorno da vida acadêmica em uma universidade privada, dizem, não sei se é verdade, que uma indicação de PX Silveira, que veio depois se tornar inimigo mortal, com direito a ameaças de tiro na cara e tudo mais.
O primeiro grande feito de Kleber Adorno a frente da SECULT foi transformar o MAG em ganha- pão de cargo comissionado. E isso chegou ao ponto do MAG ter diretores, no plural, aquele que estava na Lei, nomeado, e aquele que se passava por ser o que nunca foi. Os fatos e as provas foram levados ao MP. E o Ministério Público em dezembro de 2005 entrou com uma ação Civil Pública e de Improbidade Administrativa (Nº 2005.03550781) contra os três envolvidos. E para fazer calar as pessoas “mal intencionadas” assediou e mandou assediar, moralmente, perseguiu, ameaçou e desqualificou. Não calou.

O segundo foi fraudar o processo eleitoral da 3ª Conferência Municipal de Cultura, a reação da sociedade foi recorrer à justiça através de um mandado de segurança. Março de 2010, quatro anos depois da sentença, favorável a sociedade, anulando a 3ª Conferência, a SECULT não cumpriu o determinado em sentença judicial. E nisto há um fato curioso, hoje, o juiz (aposentado) Eduardo Siade, que julgou favorável a sociedade é o também o Procurador do Município. Irá o Dr. Eduardo Siade mandar cumprir a sentença propalada?

O terceiro grande feito, neste mesmo ano, foi o plágio de tese de doutorado. Inscrito no doutorado na UFG, no momento da defesa de sua tese apresentou material retirado da internet e de trabalhos de outros autores, na ocasião, como defesa, que culpou quem digitou, pela incapacidade de citar as fontes.

Na sequência modificou a Lei do FAC retirando a possibilidade de participação da sociedade e tomando para si o poder de decidir quais e quem seria beneficiado pelos recursos oriundo do Fundo de Apoio a Cultura. Novos protestos e denúncias, onde quem criticava era qualificado de moleque, de mal intencionado e outros adjetivos.

Essa é uma pequena mostra do caráter e da personalidade do homem, que qualifica quaisquer criticas à sua gestão na SECULT, como coisa que pessoas mal-intencionadas, pessoas essas que nem vivendo duas vidas conseguiriam construir um currículo tão invejável no âmbito do descaso com a coisa pública. O que quero evidenciar é que tal postura nada mais é que o velho e ultrapassado coronelismo do cerrado, que nega aos cidadãos e cidadãs o direito de existir, de respirar, se o seu senhor não permitir. Como os tempos são outros, não dá mais para contratar capangas no Café Central, a forma de matar é desqualificar a voz do outro, dizendo que é coisa de moleques, arroubos, e más intenções. Coronelismo esse que algema moralmente, que faz com que os que se submetem tenham vergonha de si mesmo, que esmolem aquilo que é direito.

O Museu de Arte de Goiânia é um direito e espera-se, constatados os danos, e não apenas no acervo de arte, mas ao patrimônio público, como é relatado na reportagem que o Ministério Público aja com rigor e entre com a ação de reparação por danos morais à coletividade, e acrescentaria ainda, aos direitos difusos!

Goiânia precisa de políticas públicas para cultura, de verdade, de transparência na gestão da SECULT e principalmente, qualificação desses agentes públicos.

Atenciosamente,

Deolinda Conceição Taveira Moreira
Conservadora Restauradora de Bens Culturais

Abaixo a redação modificada pelo jornal O POPULAR e publicada no dia 03/05/2010, na coluna Cartas do Leitor:

Cultura e política

Sirvo-me da presente para parabenizar o jornalista Rodrigo Alves pela excelente matéria Enfim, prontos no qual relata a situação do Centro Livre de Artes e do Museu de Artes de Goiânia.
A matéria foi muito bem elaborada, o repórter ouviu e viu vários lados e conduziu o texto de modo claro e objetivo, constatando que o poder público omisso é passível de ser responsabilizado, e punido. Considerando a citação do meu nome na matéria, assino esta carta.

Uma frase atribuída ao atual gestor da Secult, “...partidas de pessoas mal-intencionadas” ao se referir às pessoas que criticaram e denunciaram a displicência no processo de reforma do prédio do CLA e MAG, impressiona e torna fácil compreender o terror moral dos servidores, da escola e do museu, em falar sobre o assunto. Para compreender o caráter do atual gestor da Secult e especialmente a forma como pensa a cultura e a política, e as relações estabelecidas com o patrimônio cultural goianiense, é preciso voltar no tempo.

Nos idos de 1993, no Ministério Público Estadual, um jovem promotor chamado Sulivan Silvestre, morto em 1999, se destacava pelas ações em defesa do meio ambiente e, pela primeira vez na história de Goiás, também se envolveu com as causas do patrimônio cultural.

Sulivan Silvestre recebeu a denúncia de que o painel O Sonho de Dom Bosco, de autoria do artista plástico D.J. Oliveira, seria destruído. E foi destruído, mesmo notificado: da noite para o dia o então secretário de Cultura de Goiânia, Kleber Adorno, patrocinou, arrumando máquinas e homens da prefeitura, a total destruição do painel.

A desculpa na ocasião era a vontade do artista, ainda vivo, e que posteriormente substituiu uma obra-prima por um arremedo, em azulejo. Soube do caso porque Sulivan Silvestre solicitou-me um parecer técnico sobre as condições da obra, parecer esse que foi totalmente inútil, visto que não havia mais obra alguma a ser estudada, já havia virado pó.

DEOLINDA TAVEIRA MOREIRA
Vila Nova – Goiânia

5 comentários:

Deolinda disse...

É isso aí menina !!! Muito bem escrito. Muito bem explicado.
Duvido que o editor aprove e coloque pra frente, pois o jornalismos brasileiro, apesar de já ter melhorado muito, ainda está na mão dos governantes, que manipulam as empresas ameaçando retirar incentivos e etc.
Mas está dito, ou melhor, escrito.
Mande pra outros jornais, menores, que não tem medo do poder.

bjs
Fernanda
Coordenadora Acervo Audiovisual PUC-GO

Anônimo disse...

Lamentável que o homem em questão continue à frente da pasta da cultura. É um abuso fazer do FAC (Fundo de Apoio à Cultura) uma "Farra Às Custas" do dinheiro público.

Deolinda disse...

De: Lucineri Teles [mailto:lutels2001@ibest.com.br]
Enviada em: segunda-feira, 3 de maio de 2010 09:58
Para: Deolinda Taveira
Assunto: Re: Carta ao jornal O POPULAR

É forte, Déo.

Como sempre, a tua coragem em manifestar indignação com os descasos quanto aos direitos dos cidadãos.
Te desejo sorte, na empreitada, estou contigo.

Bjs,

Lucha.

Ferraz disse...

Déo,
Em O Popular, apesar de mutilado, o texto foi importante para mostrar que há vozes críticas que não aceitam a política do pão (jantares e almoços) e circo (festicine e adjacências) e que ainda há pq brigar. Pedir que a OJC publique na íntegra uma carta tão contundente seria pedir muito. Mas ainda assim temos que continuar e tenho certeza que outras cartas não serão publicadas e outra matéria negativa à Secult e ao seu titular e à prefeitura vai demorar muito.

Deolinda disse...

É isso ai Ferraz. Recebi uma montanha de mails comentando, e como não foram comentários no blog, achei que seria de bom tom perguntar se podia publicar e veja a surpresa, uma boa parte se recusou.
Não é dificil compreender por que desse cuidado todo, basta ver que alguém com tal curriculo continua ocupando cargos públicos, então o mais inteligente é tomar cuidado.
Mas será mesmo? Quantos anos comprometidos? Uma coisa é certa, esses anos de resistência nos qualificou e nenhum de nós escreve sobre auto-ajuda! Hehehehehe