terça-feira, fevereiro 28, 2006

SE NA CHÁCARA É ASSIM IMAGINEM NO MAG

Museu roubado tinha apenas vigias desarmados
por Elenilce Bottari e Vera Araújo

Rio, 27 de fevereiro de 2006 - A falta de segurança adequada nos museus da Fundação Castro Maya pode ter contribuído para o roubo das obras de Monet, Matisse, Picasso e Salvador Dalí do Museu da Chácara do Céu, em Santa Teresa, na sexta-feira. Para proteger o acervo de mais de R$ 50 milhões, o museu conta apenas com três vigilantes da empresa terceirizada Aliança, que trabalham desarmados, e com câmeras do circuito interno de TV, desligadas pelos assaltantes, que destruíram as fitas de vídeo.
Ontem repórteres do GLOBO conseguiram falar com apenas um vigilante no museu. A delegada federal Isabelle Vasconcellos, responsável pelo inquérito, vai intimar a diretora, Vera de Alencar, para que esclareça detalhes sobre a segurança.
Diretora nega que segurança seja precária
O local apresenta vários pontos de vulnerabilidade. A porta principal do museu é de vidro, não há grades na casa e o muro dos fundos do terreno, que dá para a Rua Joaquim Murtinho, é fácil de ser escalado e não tem câmera de segurança. Junto ao muro, trilhas na mata garantem acesso à casa principal.
Em entrevista ao “RJ/TV”, da Rede Globo, a diretora Vera de Alencar — que até ontem não havia comparecido à Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Cultural da Polícia Federal — negou haver precariedade no sistema de segurança e atribuiu o roubo à falta de segurança pública.
De acordo com as investigações policiais, uma Kombi, estacionada junto ao muro que dá para os fundos do museu, na Rua Joaquim Murtinho, teria sido usada para transportar as obras roubadas, entre elas um quadro de Pablo Picasso que foi danificado.
A falta de segurança não se limita ao Museu da Chácara do Céu. Ontem, em visita ao Museu do Açude, no Alto da Boa Vista, também da fundação, repórteres do GLOBO verificaram que, ontem, não havia qualquer pessoa na guarita da entrada principal, que tem um portão baixo de ferro. A campainha não funcionava, não havia câmeras de vídeo na entrada principal e era possível entrar pelo muro que fica junto ao estacionamento externo. Segundo o vigilante que atendeu ao telefone, a segurança também é feita pela empresa Aliança.
Delegada criticasistema empregado
A delegada federal Isabelle Vasconcellos disse que a segurança do Chácara do Céu é inadequada para a importância do acervo ali guardado:
— Apesar do valor das obras, a segurança do museu é desarmada. Também não há sensores de movimento e outros equipamentos adequados à guarda deste tipo de acervo.
Mesmo com a visível falta de proteção às obras de arte do acervo, o coordenador técnico do Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Mário Chagas, considerou a segurança tecnicamente correta:
— Foi um fato lamentável, mas podemos dizer que a segurança do museu estava adequada — disse. Fonte: O GLOBO ON LINE http://oglobo.globo.com/jornal/rio/191991442.asp

Diretora diz que roubo de arte foi terrorismo
por Cleusa Maria
Rio de Janeiro, 28/02/06 - Há dez anos diretora dos museus da Fundação Castro Maya, a museóloga Vera de Alencar, 63, tem poucas palavras para definir sua sensação diante do roubo de obras de Monet, Matisse, Dalí e Picasso, sexta-feira, no Museu Chácara do Céu, em Santa Teresa: perplexidade e impotência.
- Eu já me coloquei à disposição da Polícia Federal, deixei um recado no celular da delegada (Isabelle Vasconcellos). Até agora ninguém me procurou. Mas acredito piamente que as obras roubadas vão voltar.
É assim também, revelando perplexidade e impotência, que ela reage às afirmações de que a casa apresenta pontos de vulnerabilidade, como a porta principal de vidro e a ausência de grades à volta.
- A segurança do museu é adequada para proteger o acervo de furtos e incêndio. Agora, assalto à mão armada, com uma granada inclusive, é um ato de terrorismo de que nenhum sistema de segurança dá conta - defende a diretora.
Herdada pelo colecionador Raymundo Castro Maya (1894-1968) - e já conhecida como Chácara do Céu desde 1876 -, a construção atual, que abriga o museu e seu valioso acervo de 11 mil peças, foi projetada em 1954 pelo arquiteto Wladimir Alves de Souza. Destaca-se pela modernidade das soluções arquitetônicas e por sua localização, que integra os jardins ao interior e permite a magnífica panorâmica sobre a cidade e a Baía de Guanabara.
- Quando se monta um sistema de segurança contra assaltos dessa natureza, tem-se de mudar não só a arquitetura, mas também a geografia e descaracterizar o museu. Caímos naquela discussão sobre a preservação e a comunicação com o público. Se você tem de preservar a ponto de não poder mostrar aos visitantes, então não há sentido em preservar. Se as obras são tão importantes, então que se feche o museu ao público - diz Vera.
Ela ressalta que, ao dispensar os funcionários e deixar o museu, meia hora antes do horário normal do fechamento - para evitar o tumulto que cerca o desfile do bloco Carmelitas - o sistema de circuito interno de TV estava ligado e os vigias em seus postos (eram quatro no total). Velozes, violentos e ameaçando usar uma granada, os pelo menos quatro assaltantes foram direto aos alvos. Levaram os quadros Marine, de Claude Monet; Jardim de Luxemburgo, de Matisse; A dança, de Pablo Picasso; e Dois balcões, de Salvador Dalí, além do livro Toros, de Picasso. Obras únicas desses artistas na coleção de Castro Maya, eram high-ligths da representatividade dos modernistas no acervo. Eram a prata nobre da casa ao lado da coleção de Debret e do conjunto de Portinari.
- Como um todo, este é um acervo importantíssimo, uma coleção que me encanta não só pela qualidade, mas pelo modo como foi formada e doada à nação (pertence ao Ministério da Cultura desde os anos 80). Algumas obras foram adquiridas em bienais, outras através de marchands do exterior, pois Castro Maya tinha uma rede de informantes internacionais.
Com uma média de 2 mil visitantes por mês e um entorno que, por si só, já é uma atração turística, o Museu Chácara do Céu permanece fechado enquanto prossegue a investigação policial. Segundo a diretora, todas as providências necessárias já foram tomadas (entre elas um alerta internacional para evitar que as obras sejam contrabandeadas).
Publicado no JB ON LINE - Caderno B - http://jbonline.terra.com.br/

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