O Popular - Rogério Borges
Uma boa mão de tinta nas paredes, um reparo com argamassa aqui, outro ali, um rápido conserto em uma eventual goteira. Quem chega hoje ao Museu de Arte Contemporânea de Goiânia, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, vai se deparar com pintores e marceneiros dando os últimos retoques no local que vai abrigar a mais importante exposição de artes plásticas que a cidade já recebeu.
A mostra Picasso: Paixão e Erotismo, que tem a curadoria de Fábio Magalhães e será aberta ao público, dentro das atividades do Circuito Cultural Banco do Brasil, dia 28, traz à cidade 89 gravuras do espanhol Pablo Picasso, um dos grandes da pintura mundial de todos os tempos. As valiosas peças chegaram a Goiânia em plena terça-feira de carnaval, vindas de uma reserva técnica em São Paulo, onde estavam armazenadas.
Descarregadas, as gravuras foram guardadas nas galerias anexas ao museu. O transporte do material foi mantido em sigilo, como rezam os contratos assinados entre os promotores da exposição e os detentores dos direitos sobre as gravuras. O MAC também ganhou um sistema de segurança extra até 11 de março, quando a mostra será encerrada. Uma equipe de guardas vai vigiar o museu, que não conta com esquema de segurança mais rígido. Todas as obras estão seguradas.
Na verdade, a exposição das gravuras de Picasso não é uma atividade do MAC. O museu apenas cedeu o espaço físico. Os responsáveis pela montagem dos trabalhos dizem que o diretor do Centro Oscar Niemeyer, Marcílio Lemos, está dando todo o apoio logístico ao trabalho. O projeto arquitetônico-museológico, concebido por Pedro Mendes da Rocha, filho do famoso arquiteto Paulo Mendes da Rocha, prevê o aproveitamento do mezanino do museu, que teve paredes pintadas de branco e vermelho.
Na rampa que dá acesso ao andar superior, haverá um grande painel com a cronologia de Pablo Picasso. Textos do curador Fábio Magalhães e também do Banco do Brasil explicarão ao público detalhes da exposição. No primeiro piso do museu serão expostos trabalhos do artista plástico mineiro radicado em Goiás Fernando Thommen.
Detalhes
Outros detalhes técnicos precisaram ser providenciados para que o MAC pudesse abrigar a mostra. Houve uma intervenção na iluminação do recinto, para que ela se adequasse às normas internacionais para esse tipo de mostra.
As gravuras, que são feitas em papel, são bastante vulneráveis em relação às condições do ambiente. Sobre elas só podem incidir 60 lux (medida da intensidade da luz). Por essa razão, o público vai encontrar uma mostra que terá como característica uma certa penumbra. A temperatura também é controlada, devendo ficar em 22 graus Celsius, e a umidade precisa estar em aproximadamente 50%.
Em Goiânia, que tem um clima seco, foi necessária a umidificação do museu. São minúcias sem os quais a mostra não pode ser realizada. A equipe que veio montá-la, precavida, trouxe junto material para fazer as adaptações necessárias no espaço, chamadas polidamente de “deficiências totalmente supríveis.”
Esta semana, os trabalhos estão sendo submetidos aos laudos técnicos, em que a exposição é registrada no histórico de cada obra e são conferidas suas condições de preservação. Tudo isso é documentado e remetido ao dono das gravuras, o colecionador italiano Pier Paolo Cimatti, um amante das artes que vive em Milão e é dono da editora Torcular, especializada em livros de arte e edição de catálogos, principalmente na reprodução de gravuras de renomados artistas europeus. Cimatti tem uma significativa coleção particular que, além de Picasso, inclui obras De Chirico e Max Ernst.
Ele cedeu as gravuras para a exposição itinerante, que já passou por Belém (PA), Brasília (DF), Teresina (PI), Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG). Ao todo, mais de 100 mil pessoas já puderam apreciar as gravuras de Picasso no País dentro do Circuito Cultural Banco do Brasil.
Os organizadores não parecem preocupados com os problemas que tiveram de resolver em Goiânia. Eles afirmam que museus em que atividades são promovidas há mais tempo, como os de Curitiba e Belo Horizonte, por onde a mostra passou, é menor o número de adaptações. Portanto, eles vêem com naturalidade o fato de um museu recém-inaugurado, como a atual sede do MAC, precisar de retoques para exposições desse porte. Em relação ao público, eles acreditam que haverá grande interesse, a exemplo do que ocorreu nas outras cidades em que os trabalhos estiveram.
Essa mostra seria apresentada em Goiânia no final do ano passado e as obras chegaram a estar na cidade, mas, num episódio que até hoje não foi devidamente esclarecido, as gravuras foram reembarcadas e rumaram para Brasília. Na época, alegou-se que havia problemas de agenda, mas nos bastidores circularam versões de que o adiamento deveu-se a discordâncias políticas entre o governo federal, do PT, e o estadual, apoiado pelo PSDB. Na época, as duas legendas se enfrentavam nas urnas na eleição presidencial. 21/02/2007
Fotografia: Deolinda
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