sábado, agosto 26, 2006

GRANDE HOTEL IMAGENS DO DESCASO

A invasão do Grande Hotel pela Secretaria de Obras da Prefeitura Goiânia iniciou-se em uma 2ª feira e só foi abortada na 5ª feira, após a mobilização da imprensa e do IPHAN, entretanto, de acordo com a assessoria de imprensa da SECULT isso jamais aconteceu. "A Secretaria de Obras chegou a cogitar a utilização de umas salas, mas desistiram ao conversar com o secretário. Isso foi ontem pela manhã, e a chefe de Gabinete, Rosana, ao sair passou pela minha sala, comentando o resultado da empreitada que não deu certo. " Marley Costa Leite




Aconteceu e tanto aconteceu que na sala de exposição ainda ficaram os móveis da futura SECRETARIA DA HABITAÇÃO e a prova ainda estava lá na 2ª feira seguinte, os armários e as gavetas das mesas. As mesas já haviam sido retiradas ou escondidas.



Uma palestra bastante interessante com a professora Mônica Martins da Silva, co-autora do livro "História das festas e religiosidades em Goiás"para um grupo de estudantes da ESEFEGO, acontecia em meio aos móveis, sob o olhar complacente da chefia da Divisão do Patrimônio Histórico municipal.



A Constituição Federal no seu Artigo 216 § 1º declara que "A proteção dos bens culturais não é só uma prerrogativa com também um dever do poder público". No caso do Grande Hotel estará o poder público fazendo o seu dever de casa?

Será que fingir que os fatos não aconteceram com o objetivo claro de desqualificar qualquer denuncia é a melhor solução?

O Decreto Lei 25 de 30/11/37 no seu artigo 20 diz que " As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-las sempre que julgar conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar obstáculos a inspeção...", entretanto, segundo a assessoria de imprensa da SECULT justificando a proibição do acesso dos fiscais do IPHAN ao prédio,"Existe uma ordem expressa do secretário para não deixar ninguém alheio ao trabalho entrar nas dependências do Grande Hotel. "

E ainda segundo a mesma fonte, os fiscais ficaram furiosos pela denúncia falsa e anônima. Os fiscais do IPHAN furiosos já é um caso a parte, visto que são pagos para fiscalizar e não para ficarem furiosos, mesmo que a comunicação dos fatos fossem falsas e anônimas. E não foi esse o caso. Nem a denúncia foi falsa e muito menos anônima. E se recebido o telefonema comunicando a invasão do prédio, os fiscais tivessem imediatamente procurado apurar os fatos, certamente teriam encontrado os agentes da Secretaria de Obras trabalhando tranquilamente.

No dia seguinte, mais de 24 horas depois da comunicação da invasão o circo já estava armado para ocultar a verdade, aos olhos da fiscalização. E será que não era o caso de ficarem furiosos por terem sido impedidos de realizar o seu trabalho?

A verdade é que existiu uma ordem expressa de impedir o acesso da imprensa ao local, aos fiscais do IPHAN, e desta forma garantir que teriam tempo de apagar os rastros deixados pela "abortada" operação invasão.

Todavia, será que alguém poderia explicar como é que a Secretaria de Obras enviou na 2ª feira o encarregado Sr. Carlos para verificar quantas salas haviam desocupadas ( e são muitas) e a Diretora da Divisão de Patrimônio Histórico, só se deu conta dos fatos na 4ª feira? E olha que na 4ª feira, os móveis já estavam no prédio, e cerca de 12 pessoas estranhas circulavam tranquilamente verificando os melhores locais para passar os cabos de rede de computadores, sem que qualquer funcionário perguntasse o significado ou pedisse um documento.

Na 5ª feira, após a denúncia no Blog, a invasão já estava abortada e a versão dos fatos era a de que o próprio secretário não sabia de absolutamente nada. Não é curioso? A diretora da Divisão de Patrimônio Histórico não sabia de nada, o secretário também não, então que autorizou a Secretaria de Obras a ocupar o prédio para ali fazer instalar a Secretaria de Habitação sob o comando do Senhor Iram Saraiva?

Essas são as imagens do descaso. O contraste no piso é a maior prova da ausência de limpeza no prédio, buracos nas paredes, coleções amontoadas de qualquer maneira ou seja, o Grande Hotel não é um Centro de Memória, se for Centro de Referência, certamente, uma referência de tudo aquilo que não se deve fazer com patrimônio cultural.















E isso tem solução. Basta a SECULT parar de investir em prédios de particular e passar a investir na preservação do patrimônio que já está sob sua responsabilidade.

Enquanto escondem a verdade, como as avestruzes enfiando a cabeça no buraco, o que fica de fora mostra a ausência de políticas públicas no município para cultura. Eventos não são políticas públicas para cultura.

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