quarta-feira, agosto 16, 2006

GRANDE HOTEL – PATRIMÔNIO NACIONAL E DESCASO MUNICIPAL



O Grande Hotel está sendo ocupado pela SECRETARIA DE OBRAS DA PREFEITURA MUNICIPAL DE GOIÂNIA!

A necessidade de hospedar adequadamente na moderna Goiânia que surgia, os representantes políticos, empresários e demais visitantes, isso nos idos de 1933, nasceu o Grande Hotel. O edifício tornou-se o maior edifício da cidade na época com os três pavimentos, símbolos de boa hospedagem e modernidade.

Ao longo do tempo, veio a decadência e o que era imponência e gloria foi substituído por usos não tão gloriosos assim. E finalmente é entregue como pagamento de dividas ao INSS.

No dia 11 de dezembro de 2002, foi aprovada pelo Conselho Consultivo do IPHAN a proposta de tornar patrimônio nacional o acervo arquitetônico art déco de Goiânia.

Um trabalho impar foi realizado pela 14ª SR do IPHAN na produção da pesquisa e do material que fundamentou a proposta e sobre a importância do tombamento os organizadores do dossiê de Goiânia afirmam:
“... Com o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dado ao patrimônio arquitetônico goianiense, o Brasil definitivamente sai do Barroco para entrar no século XX. ... Pois, com a elevação de Goiânia a patrimônio arquitetônico nacional, a mudança desse enfoque consolida-se. Antes de Goiânia, o único outro conjunto urbano do século XX que havia merecido distinção semelhante era o de Brasília., além do complexo da Pampulha em Belo Horizonte. E mais: o conjunto goianiense de 22 edifícios é a primeira distinção que uma obra art déco recebe em todo o Brasil..”

A Prefeitura Municipal de Goiânia publica através da SEPLAN em 2004, o dossiê na integra e estabelece negociações para ocupação do prédio do Grande Hotel com o propósito de ali fazer instalar o Centro de Memória e Referência de Goiânia. Após uma ocupação pela edição da CASA COR, relâmpago e benéfica pois reformou o imóvel, a SECULT transferiu para o prédio a DIVISÃO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO, que diga-se de passagem constitui-se de 18 servidores, 03 computadores cai não cai, móveis com uns 15 ano de uso e documentos, livros, catalogados ou não e muita poeira.

Durante o ano de 2005 por diversas vezes, a SECULT foi a público declarar os planos para uma grande biblioteca a ser instalada no Grande Hotel. E houve até lançamento com direito a presença do prefeito de Goiânia. Para entender basta dar uma olhada na matéria “SECULT PROMETE BIBLIOTECAS” publicada no jornal Diário da Manhã no dia 1º de abril de 2005 (vai ver que o problema é que o primeiro de abril tradicionalmente é o dia mentira)cujo link é
http://www.dm.com.br/impresso.php?id=78693&edicao=6357

O resultado da não ocupação efetiva do prédio, ou melhor da falta de interesse da SECULT em dar continuidades aos projetos da gestão anterior, é a solicitação por parte do INSS junto a Tribunal Regional Federal da reintegração de posse. Ação ainda não conclusa e com audiência de conciliação marcada para o dia 29 de agosto.

Ora, o IPHAN reconhece que Goiânia possui um importante acervo a ser preservado e mais, reconhece, tombando como patrimônio nacional. Mas isso não fez com que o titular da SECULT tomasse consciência, que mais que “fingir” uma ocupação do prédio pelo CENTRO DE MEMÓRIA E REFERENCIA DE GOIÂNIA, que nada mais que um projeto não realizado, que não saiu do papel, era preciso equipar, especializar, referenciar a DIVISÃO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO.

Mas, dar um formato efetivo a DIVISÃO DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO não é interessante, bom mesmo é investir os recursos do Fundo de Apoio a Cultura no Cine Ouro, um prédio de particular utilizado pelo poder público.

E agora, pasmem, o Grande Hotel está sendo ocupado desde o dia 14 de agosto pela SECRETARIA DE OBRAS ou seja, o prédio, motivo de litígio entre a Prefeitura e o INSS, deixará de lado todas as possibilidades de uso cultural para se tornar um espaço burocrático. Será que pode?

Hoje após telefonar do celular (o telefone fixo do Grande Hotel só recebe) para quantos números podia, finalmente encontrei alguém que se indignou e ligou para a regional do IPHAN e me surpreendeu com a seguinte frase “Obrigada, por agir como cidadã”. Confesso que fiquei pasma, já estava tão cansada de clamar para montanhas e nem mesmo um eco de retorno, foi surpreendente ouvir que estava agindo com cidadã. E esse é um conceito totalmente desconhecido da diretora da DIVISÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL da SECULT, a senhora Sheila.

Pois é o Grande Hotel está sendo entregue à Secretaria de Obras, assim como a antiga Estação Ferroviária foi entregue a SEDEM. Afinal, quais são as políticas públicas para a cultura em Goiânia?

Depois da transformação do FAC em receita da SECULT, da fraude na 3ª Conferência Municipal de Cultura, da manutenção de um Conselho Municipal de Cultura ilegítimo, da prática ostensiva de perseguição a servidores públicos, o que mais irão inventar para dar uma “cara própria” a essa gestão?

Ou seja, a despeito dos discursos de apoio à cultura do Prefeito de Goiânia, o que efetivamente executa são metros de asfalto que veremos se é do bom quando as chuvas chegarem.
Goiânia art déco: acervo arquitetônico e urbanistico - dossiê de tombamento. org. Celina Fernandes Almeida Manso. 2004. (p.9-10)

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