Muito já foi dito sobre onde colocar a última obra de Neusa Moraes. Um obra monumental e que não pode ser instalada em qualquer lugar, sob pena de desaparecer ou aparecer demais.
Osmar Pires, na minha opinião é quem melhor demonstra a necessidade de garantir o diálogo necessário para proteção de obra e do local onde vai ser instalada.
Neusa recebeu essa encomenda da Prefeitura de Goiânia, e como é muito comum, assim que terminou o mandato do Prefeito "encomendador", o próximo ignorou a artista e sua obra. Com sua morte, a AGEPEL foi a público dizer que finalmente seria dado um destino a obra e claro garantir a sua conclusão.
Bom, e a confusão segue sem um solução final, até mesmo por que a obra da Neusa, nessa caso, não é obra para ficar em qualquer lugar.
Boa proposta a do Osmar, vamos ver se as vaidades serão deixadas de lado e observado o bem maior.
DIÁRIO DA MANHÃ
Goiânia, 25/1/2008 – sexta-feira - edição n° 7.385 - página 10 - Economia
MONUMENTO EQÜESTRE: IMPLICAÇÕES DE UMA ESCOLHA CORRETA,
por Osmar Pires Martins Júnior*
A Agência Goiana de Cultura (Agepel) anunciou o local para instalar o monumento eqüestre de Pedro Ludovico. A estátua de bronze, com quatorze metros de altura, esculpida em gesso e fundida em bronze, com Pedro Ludovico montado em um cavalo, cavalgando no ponto mais alto de onde avistou o vale escolhido para sediar a nova capital do estado de Goiás. A obra escultural, da artista Neusa Moraes, “será instalada no Morro da Serrinha”, divulgou Linda Monteiro, presidenta da Agepel, que realiza uma gestão dinâmica e profícua em prol da cultura goiana.
Sobre este assunto, eu escrevi dois artigos publicados neste espaço, em dezembro do ano passado: o primeiro, no dia 06, intitulado Um monumento à altura da obra de Pedro; e, o segundo, dia 13, Resgate de uma dívida histórica. Volto ao assunto para acrescentar que, além do significado histórico e cultural, outros aspectos igualmente importantes devem ser considerados na escolha do local para instalar um monumento que possui significado tridimensional: histórico, cultural e ambiental. Sobre os dois primeiros, deixo de discorrer, tendo em vista que personalidades da estatura de José Mendonça Teles e Mauro Borges já se pronunciaram a respeito. Enfoco aqui a natureza urbanístico-ambiental do Morro da Serrinha, como necessária e importante, que não deve ser colocada em segundo plano, sob pena de se reduzir, involuntariamente, a dimensão da obra de Neusa Moraes a um objeto físico portentoso, mas destituído de vida.
O monumento ganhará vida na medida que a escultura integrar profundamente os seus aspectos multidimensionais. O Morro da Serrinha é o ponto mais alto de onde, na década de 30, se projetou o futuro; mas, simultaneamente, é o testemunho do cerrado típico, que outrora cobria extensamente o Centro-Oeste e, hoje, remanesce dentro de um tecido urbano dilacerado pela ocupação humana desordenada. Sobrevivem no Morro da Serrinha mais de 70 espécies de uma vegetação típica brasileira, como araticum, murici, piqui, cagaita, jacarandá, bacupari, mangericão-do-campo, ipê-amarelo. O monumento, portanto, expressa a memória histórico-ambiental brasileira, na sua jornada de interiorazação e conflito desbravador - preservador.
A visibilidade, a estética e o acesso ao monumento, necessários à valorização da própria obra, requer a implantação de uma estrutura adequada e sustentável, implicando na recuperação do Morro da Serrinha e na implantação do Parque de mesmo nome. Portanto, representa o resgate de um patrimônio urbanístico-ambiental da cidade que foi relegado à sanha especulativa dos que dilapidam os bens de uso comum da população.
O Parque da Serrinha é um espaço-livre constante do plano original da cidade que, implantado, revitalizará corretamente uma região urbana importante, mas esquecida. O parque possui área de mais de 2 alqueires, localização privilegiada e com vocação para nele se instale, adequadamente, equipamentos ambientais, culturais e históricos. E sem provocar impactos negativos, como a construção de prédios comerciais de dezenas de andares, pretendida num passado recente.
O prefeito Iris Rezende, o secretário de Cultura, Kléber Adorno, o presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente, Clarismino Júnior, juntamente com a presidenta da Agepel e o governador Alcides Rodrigues, dirigentes comprometidos com os interesses maiores da coletividade, têm um desafio e uma oportunidade única de promover um entendimento capaz de quitar uma dívida do Poder Público com a história, a cultura e o meio ambiente da Capital dos goianos.
Na esteira da iniciativa da Câmara Municipal de Goiânia, por meio do vereador Pastor Rusemberg, um possível fruto do entendimento entre a prefeitura e o governo estadual, seria a promoção de um concurso público para a elaboração do projeto de implantação de um belo e moderno parque ecológico, no Morro da Serrinha, contendo um mirante com o monumento eqüestre de Pedro Ludovico. A população agradeceria esta iniciativa como sinal de amadurecimento e avanço das políticas públicas no nosso Estado.
*Osmar Pires Martins Júnior, biólogo, engenheiro agrônomo, mestre em Ecologia, professor universitário, é presidente da Academia Goianiense de Letras (AGnL).
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