terça-feira, abril 04, 2006

O Centro Cultural Oscar Niemeyer

Estive na inauguração. O que vi me deixou emocionada. O espaço dignifica a cultura goiana. A pergunta que fica no ar, o espaço que dignifica a arte, dignificará também as academias e determinará o fim do arbítrio, do autoritarismo, da troca de favores na cultura goianiense?
O espaço é magnífico e necessariamente não precisará ser totalmente privatizado, embora, cinema, restaurante, cantinas e coisas afins não sejam negócios apropriados para o Estado, museu, bibliotecas, salas de música e teatros costumam ser.
Na minha humilde opinião, a classe produtora de cultura em Goiás só terá a chance de perder um espaço como esse se não se organizar. Enquanto uns historicamente detentores "do saber cultural" goiano, se sustentam com trocas de favores e recursos públicos, outros, verdadeiramente produtores da arte, no cinema, no teatro, na música buscam a independência.
O espaço será daqueles que se apresentarem com profissionalismo e qualidade.
Quem viver verá!
E enquanto isso... Mas uma tarde edificante no Grande Hotel, uma tarde preguiçosa e sonolenta (adotei um tampão de ouvidos, com poderes para abafar até 30dc)...de restauradora do MAG a camareira dos fantasmas do Grande Hotel...Êita, que decadência! Viu? Quem mandou denunciar os desmandos do poderoso chefão?
A regra é "manda quem pode, obedece quem tem juízo".
Todavia será que o mundo seria o mesmo se Ghandi tivesse se calado ou pego em armas?Ou se Napoleão tivesse ganhado todas as batalhas? E se Alexandre deixasse de ser um conquistador? E se Cabral tivesse aportado em outras praias?
Pois é não há mal que dure para sempre, e tem uns que começaram se intitulando DIRETOR DO MAG, depois, DIRETOR INTERINO e imaginem, santíssimas, agora se intitula CONSULTOR DE ARTES DO MAG, isso é o que chamo de um tremendo 171!
E a Malu se preocupa com o Centro Cultural Oscar Niemeyer?


Ah, abaixo a matéria que originou essas reflexões impertinentes!


O Centro Cultural Oscar
Niemeyer merece uma revolução

Os próximos três meses serão decisivos para o Centro Cultural Oscar Niemeyer, inaugurado oficialmente pelo então governador Marconi Perillo no dia 30 de março. Esse tempo será necessário para o término das obras, para equipar adequadamente o espaço e para a elaboração dos editais que vão reger o futuro do moderno espaço cultural.

Malu Longo

Nos bastidores, sabe-se que é imenso o número de pessoas interessadas em explorar as alas que serão entregues à terceirização. Todos os dias chegam propostas neste sentido ao presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), Nars Chaul, que ainda não parou para analisá-las, segundo informou. O que pode ser uma solução de sobrevivência é um espectro para o meio cultural.

Nars Chaul explica que muitos setores ali continuarão sob a responsabilidade da gestão pública como os espaços reservados à biblioteca e ao Museu de Arte Contemporânea. Entretanto, de acordo com ele, o Estado não teria condições de arcar com todas as despesas de manutenção do local, por isso a necessidade de terceirização dos cinemas, do restaurante e da maravilhosa sala de música.

O presidente da Agepel estava visivelmente emocionado nos shows que marcaram a abertura da Sala de Música Belkiss S. Carneiro de Mendonça. O público correspondeu ao esforço da gestão estadual em presentear a cidade com uma obra que certamente será referência nacional. Entretanto, se alguns se manifestaram, muitos outros não ousaram perguntar, mas a dúvida permanece no ar. O que acontecerá de agora em diante? O Centro Cultural Oscar Niemeyer será mesmo um espaço voltado à pluralidade das manifestações artístico-culturais?

Há alguns anos o goianiense assistiu à terceirização do Centro de Convenções de Goiânia, construído no Centro da capital. Hoje, o teatro-auditório Rio Vermelho, um dos maiores do País, com mais de 2 mil lugares, raramente abriga espetáculos culturais em razão do seu alto custo. Produtores locais alegam que não compensa alugar a sala porque não poderiam transferir para os ingressos o valor cobrado. Com raríssimas exceções, o Rio Vermelho atualmente abriga eventos vinculados às convenções e formaturas que abastecem o cofre da empresa que explora o espaço construído pela administração pública.

O turismo de eventos é importante para a cidade, sabemos disso. Significa mais divisas, mais negócios e mais empregos. O que se questiona aqui não é quem faz e como faz, mas através de quem. Até quando a gestão pública vai construir para privatizar?

A musicista Belkiss S. Carneiro de Mendonça, que morreu em novembro passado, teve tempo de opinar sobre o que seria importante na sala de música do Centro Cultural Oscar Niemeyer que hoje tem o seu nome. O fosso da orquestra e os detalhes imprescindíveis para uma boa acústica foram mencionados por nossa dama do piano. O que estaria ela pensando hoje se soubesse da movimentação da iniciativa privada em busca dos novos filões da cultura?

O Centro Cultural Oscar Niemeyer é impactante em todos os sentidos. É moderno, grandioso e tem a assinatura de nosso arquiteto maior, privilégio de poucas cidades. Goiânia já está no roteiro turístico formado pela criação de Niemeyer a exemplo de Belo Horizonte, Brasília, Niterói, São Paulo e Curitiba, para citar algumas. É um ganho sem precedentes para a nossa capital.

Feito pela cultura e para a cultura, o novo espaço merece ficar com a cultura e de forma democrática. A grande expectativa do goianiense que já teve a oportunidade de conferir a bela construção erguida ao lado da GO-020 é saber de que maneira ela vai contribuir para o fortalecimento das nossas artes. E isso só ocorrerá se houver entendimento, tanto daqueles que a construíram quanto de seus futuros gestores, de que não podemos simplesmente entregá-la, mesmo que parcialmente, a mãos meramente exploratórias. Não é possível que se transforme em comércio aquilo que foi feito para a transmissão de conhecimentos e para as criações artística e intelectual.
“O caminho da arquitetura é esse: a arquitetura tem de ser bonita. Se é mais justa, é ainda melhor”, disse certa vez Oscar Niemeyer em uma das inúmeras entrevistas que concedeu. Há por esse Brasil afora diversos centros culturais bem-sucedidos, lugares de convivência democrática que poderão servir de exemplo à gestão do Centro Cultural Oscar Niemeyer, como é o caso do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, mantido pelo governo do Ceará, ou o Centro Cultural São Paulo, da Prefeitura de São Paulo.

É hora de estabelecer prerrogativas antimercantilistas para a gestão do bem público. A sensação entre aqueles que fazem e esperam cultura em Goiás é de que a qualquer momento o grande bolo será fatiado e vendido. Mas não precisa ser assim, afinal o grande arquiteto já disse: “Se a gente quiser fazer uma arquitetura que chegue ao povo, não é um problema de arquitetura: é um problema de revolução”.

Malu Longo é repórter de Cidades
Fonte: publicado originalmente no Jornal O POPULAR de 04/04/2006.
Foto: Ângela Scalon (http://www.agepel.go.gov.br/index.html)

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